Esse é um texto-desabafo. Nele, falo sobre mim, exclusivamente. Mas, se por ventura você se identificar, quero que se lembre de duas coisas: 1) você não está sozinha; 2) existem outros caminhos ✨
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Eu sempre fui curiosa.
Quando eu fazia faculdade de Jornalismo, eu investia boa parte do meu salário em revistas: comprava uma por semana com o compromisso de não repetir os títulos ao longo do ano (fora as três que eu assinava mensalmente).
Eu lia jornais, também. Todas as páginas. Eu acreditava que poderia ter algo no caderno de ecologia que fizesse um sentido danado quando reunido a algo que estava lá no caderno de economia, por exemplo.
Minha estante de livros não poderia ser diferente: múltipla. Com livros de decoração, de fotografia, de receitas, romances, clássicos, policiais… e biografias. Muitas biografias. Conhecer a trajetória de outras pessoas é algo que me fascina desde criança.
Isso me acompanhou por tanto tempo… E me fez conhecer tanto da vida e do mundo… Sem preconceitos, sem imposições… Tudo era possível, porque eu sabia que já tinha sido possível para outra pessoa, em outro século, talvez.
Então eu comecei a empreender profissionalmente, o que foi a realização de um sonho. E, naturalmente, eu precisava honrar essa realização.
Sem que eu percebesse, os livros literários foram perdendo espaço para os livros técnicos. O dinheiro investido em diferentes revistas deram a vez a cursos de marketing e de comunicação. A curiosidade, que antes me levava a tantos lugares, de repente ganhou um foco: gestão de marca.
Tentando estruturar externamente uma versão de mim que parecesse forte, coerente e consistente, eu fui, dia após dia, sufocando minha inteireza tão natural e diversa.
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A estratégia empreendedora.
Mas não me entenda mal: essas mudanças fazem parte do percurso.
Ao escolhermos um caminho empreendedor em que o nosso rosto e o nosso nome são o cartão de visitas, nós precisamos de uma nova estratégia para ele, uma diferente daquela usada enquanto éramos CLT. Uma estratégia que nos ajude a transmitir a nossa responsabilidade, o nosso conhecimento, a nossa capacidade de contribuir com outras pessoas.
Só que, às vezes, a gente perde a mão (não falo sobre taças e batom vermelho).
Eu, por exemplo, entusiasta que sou, coloco profundidade e intensidade em todas as minhas entregas. E o caminho empreendedor, especialmente por ser no empreendedorismo solo, foi um convite para que eu mergulhasse de cabeça na lapidação da minha marca pessoal, de tal forma que, em certo momento, ela começou a se confundir com a minha inteireza — sem sê-la, obviamente. Afinal, eu sou mais do que a Mariana Empreendedora Solo Apaixonada por Estudar sobre Marcas, Marketing e Desenvolvimento Pessoal.
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A parte espontânea.
Eu torço para o Palmeiras. Mais do que isso: eu sou supersticiosa.
Também gosto de assistir a jogos da NBA (na verdade, faço isso todas as noites, não importa qual time jogue).
Além de acompanhar as partidas, passo muito tempo no Twitter (não consigo chamar de X) vendo os comentários sobre os jogos.
Outra parte mim é apaixonada por História da Arte. Não a arte, em si, mas sim a história que move a arte (e que é movida por ela).
Mas não se engane: eu sou bem clichê. Gosto de Leonardo da Vinci, Frida Kahlo, Vincent Van Gogh, Michelangelo…
A biografia do Van Gogh, especialmente, me pediu muitas pausas. Que vida sensível, complexa, sofrida… Eu dormia chorando, pensando sobre como deve ter sido viver tudo aquilo, visto que ler já era suficientemente triste.
Agora uma curiosidade polêmica: eu não gosto de música (menos quando estamos viajando, aí eu gosto muito). Música me faz sentir muito profundamente. Ela acessa um lugar em mim que provoca minhas emoções de um jeito que ainda não aprendi a regular. Prefiro o silêncio. Aliás, prefiro o som da vida. Às vezes estou trabalhando e ouço as patinhas do meu cachorro se aproximarem. Eu paro tudo para ouvi-las.
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Nossas camadas não cabem em um cartão de visitas.
O cartão de visitas é pequeno demais. Quando a gente insiste em escrever muita coisa nele, falta espaço. A informação realmente importante perde força no meio do excesso.
Traçando um paralelo entre o cartão de visitas e um perfil no Instagram, por exemplo, a história é a mesma: não temos espaço, ali, para falarmos sobre a amplitude que somos, porque, apesar da verdade que envolve a nossa inteireza ter muito valor, ainda assim ela é um risco a uma comunicação profissional.
Tem uma frase do T. Harv Eker, autor de Os Segredos da Mente Milionária, que é mais ou menos assim: onde você foca, expande.
Ou seja, basicamente, se você quer ser lembrada como uma ceramista especialista em “xícaras fofas com rostinho”, é importante oferecer diversos elementos que reforcem essa imagem. Qualquer coisa que fuja disso, é um ruído.
Essa ‘limitação’ da marca faz muito sentido quando falamos de uma empresa, de um universo corporativo. Mas nós somos pessoas. Complexas. Amplas. Ambíguas. Voláteis.
É difícil se manter fiel ao cartão de visitas sem, em algum momento, se cansar dele.
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Liberdade para desbravar. Liberdade para ser.
Foi isso o que aconteceu comigo, em minha jornada que tentava integrar harmoniosamente pessoal e profissional: minha alma sentiu falta de encontrar um campo aberto por onde correr e desbravar.
E tem mais!
Além de me sentir sufocada pela limitação e pela estratégia do meu negócio, eu ainda sou muito tímida.
A exposição é algo extremamente cansativo para mim.
Embora eu ame escrever, compartilhar meus aprendizados e minhas percepções, ao mesmo tempo é como se eu me despisse e me posicionasse vulnerável à frente de todos, publicamente, sem uma caixinha de comentários onde eu possa explicar melhor o que eu quis dizer.
O peso disso começou a ultrapassar o que eu estava disposta a carregar.
Então eu entendi: era preciso encontrar uma nova maneira de honrar minha trajetória profissional (pela qual eu sou completamente apaixonada) e ainda assim preservar minha subjetividade (o que inclui minha timidez, minha introspecção, minhas ausências necessárias…).
Afinal, um negócio autoral e sustentável, que é o que eu desejo para mim e para cada mulher que acompanho, só é possível quando antes de tudo olhamos com carinho e respeito para nós, suas autoras.
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É curioso como, às vezes, aquilo que nos torna interessantes seja justamente o que escondemos quando tentamos ser interessantes demais, não é?
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A parte profissional.
É um trabalho, você sabe como funciona. É preciso falar sobre ele. É preciso que as pessoas certas o conheçam e se interessem por ele.
A pergunta agora era: como fazer isso sem corromper a minha inteireza? Aliás, como fazer isso a favor, e a partir, da minha inteireza?
Numa certa manhã, a resposta veio em forma de um novo questionamento: “E se eu separasse minha comunicação profissional da minha comunicação pessoal? E se eu ‘blindasse’ a pessoa que eu sou do negócio que eu tenho?”
Fui pesquisar.
Especialmente, fui acompanhar mais de perto a Isa, da Flui, a Beatriz, da Bits to Brands, e a Ellen, da Branding Lab, mulheres inteligentes e interessantes que separam seu posicionamento pessoal de seu posicionamento profissional.
(O Tily, que é o ceramista que faz as xícaras fofas com rostinho, tem o perfil do negócio, que eu marquei acima, e o pessoal, onde ele é só ele, sem se preocupar em ser um profissional respeitado no espaço em que sua alma pede para ser completamente livre).
E gostei do que vi. Me senti leve com a possibilidade de nutrir dois canais de conversa que se complementam, embora tenham funções diferentes:
em um deles, conto sobre a cirurgia que meu cachorrinho precisou fazer, e sobre os desenhos que gosto de pintar, e sobre o quanto estou avançando nas aulas de francês com a corujinha verde mais famosa desse planeta;
já no @nossopatio eu assumo com inteireza meu lado profissional, sem que isso me custe nada. Nele, me posiciono. Ocupo. Me aproprio do espaço e das minhas características que o possibilitam com relevância e valor para quem chega (e para mim mesma).
Mariana, a mulher curiosa, que torce, pinta e chora de tanto rir com memes bobos, respira aliviada.
Mariana, a mulher profissional, sensível, que se interessa genuinamente por quem cruza seu caminho, que se dedica a cada história como se fosse a única, brilha, sendo quem veio para ser.
Liberdade e responsabilidade juntas. Do jeitinho que eu gosto.
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É sutil.
Talvez não faça sentido para quem não consegue enxergar as nuances que envolvem um lado e outro (e tudo bem, porque estas nuances fazem parte da minha vida). Mas, para mim, isso fez toda a diferença.
E ainda que você não se identifique exatamente com o que eu trouxe hoje para compartilharmos, deixo aqui uma pergunta para você refletir: você tem se sentido inteira em seu caminho profissional? Ou ele tem custado a você sutilezas da sua verdade?
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NOS VEMOS EM BREVE!
Obrigada pela sua companhia hoje!
Podemos continuar nossa troca no Instagram, se você curte estar por lá. Ou então nos vemos na segunda que vem, com uma nova conversa para gente desbravar juntas.
Ah, e minha versão profissional me lembrou de dizer: eu tenho dois acompanhamentos sensíveis pensados para mulheres que estão à frente de negócios e carreiras autorais. Neles, eu caminho ao seu lado, te ajudando a ver, a organizar e a priorizar o que realmente importa. Você pode saber mais aqui.
Com carinho,
Mari.
Acho que escrever sobre isso pode ser um sinal pra muitas pessoas que se sentem assim. Eu passei por esse processo sozinha e sem comunicar de verdade o que havia acontecido, e no meu caso, eu não sinto mais vontade de usar o instagram tanto assim, então eu tenho ali o profissional e o pessoal no mesmo espaço que é bem slow e que não me deixa tão vulnerável, e sim honesta. O equilíbrio pessoal é tudo né? Encontrar nosso jeito de fazer. Enfim, que carta boa!