A escrita de hoje nasceu depois de refletir (muito) sobre um comportamento que tenho visto se repetir em diferentes lugares, grupos e momentos: o desejo crescente de abandonar as redes sociais.
Como eu olho pro digital
Vejo todos os dias, em diferentes canais, pessoas contando sobre sua saída do Instagram e do TikTok. E o motivo quase sempre é o mesmo: cansaço.
Confesso que eu também me sinto cansada, mas a verdade é que, pra além do meu trabalho, eu realmente gosto do Instagram. Gosto de como ele me conecta a pessoas novas, de como me apresenta perspectivas diferentes das minhas, de como me convida a expandir o meu olhar...
Porém, ainda assim, eu também precisei encontrar um jeito de tornar esse relacionamento mais saudável e possível pra mim. Por exemplo, estipulei um tempo curto de uso: quinze minutos pela manhã, quinze à tarde e, de vez em quando, quinze à noite (esse eu costumo pular — por desinteresse, realmente).
E por eu gostar tanto de estar ali, eu insisto em me questionar: “Qual é a presença que eu quero ter, como marca, nesse ambiente de entretenimento da minha cliente?”
Sim, eu to no Instagram pra falar sobre negócios, marcas e comunicação. Esses três temas (que eu vejo como um só) fazem parte da minha vida desde antes de existir o Orkut, risos! Como eu costumo dizer, eles são a minha lente pro mundo, fazem meus olhos brilharem. Eu amo falar sobre eles. Seja com meus pais, com meus amigos, com meu marido… Os livros que consumo, as séries que escolho assistir… Mesmo nos meus momentos de lazer, eu “leio” o mundo a partir dessas lentes. Logo, falar sobre negócios, marcas e comunicação é a minha natureza em ação. E é essa natureza que eu assumo quando to em uma rede social.
Mas tem um ponto importante aqui: minha presença no Instagram quase nunca se direciona à venda dos meus serviços. Existem, sim, alguns momentos de divulgação, mas, quando aparecem, eles são muito bem sinalizados.
E por que eu escolho fazer assim?
Porque minha mãe e minhas tias estão no Instagram. Porque a dona Sônia, uma senhorinha maravilhosa que cuida da chácara da minha família, está no Instagram. Porque minha prima e os amigos dela, ainda adolescentes, estão no Instagram. E todos eles estão lá de guarda baixa. Estão lá pra se divertirem e se entreterem, pra se manterem conectados a seus conhecidos.
Quando entramos assim, de guarda baixa, em um ambiente, nos tornamos mais disponíveis ao que o ambiente oferece. Estamos menos preparadas pra dizer não, pra recusar convites e propostas — afinal, estamos entre amigos, estamos tendo um bom momento. E quando usamos gatilhos e artimanhas pra convencer uma pessoa nesse estado de relaxamento, me parece até injusto. Veja, ela não entrou em uma loja pra consultar um preço, ou em uma sala de reuniões pra negociar algo. Ela entrou ali pra se divertir.
“Ah, mas eu não to ali pra falar com a mãe da Mari ou com a prima da Mari, to ali pra vender pra a minha cliente, pra promover o meu negócio.”
Ok, eu reconheço a verdade na sua fala, mas não posso deixar de pensar que, ainda assim, essas outras pessoas também estão lá — e, ao falar com a sua cliente em uma “praça pública”, é natural que outras pessoas escutem a sua mensagem.
Enfim, esse é um assunto (muito) delicado pra mim. E é por isso que eu escolho não vender pelo Instagram ou por outras redes sociais — prefiro convidar a pessoa pra uma conversa um a um e, ali, entender se de fato o que eu ofereço faz sentido pra ela (conversamos sobre isso na nosso pátio 013: O Guia da Venda Sensível).
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Será que estamos automatizando demais os nossos relacionamentos? “Marketizando” demais? Será que nos esquecemos da delicadeza do contato?
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Nós estamos cansadas das redes (não mais) sociais
Ok, feito o meu contexto (muito pessoal), acrescento agora a uma camada de muito valor: diferentes vozes, interagindo em diferentes conversas.
Essas falas, todas retiradas de comentários aqui do Substack, me convidaram a pensar seriamente sobre o cansaço digital (a news “O Futuro do Digital já é Agora…”, da Ale Garattoni, somou muito com isso também!).
De modo geral (muita atenção aqui: GERAL), estamos sempre em busca de oportunidades pra uma vida melhor (ou que pareça melhor). E, nessa busca, nos acostumamos a adotar uma postura exploratória (assim como os portugueses quando chegaram ao Brasil, sabe?).
Quando, lá em 2020, em plena pandemia, todos os olhares se voltaram pro Instagram, TCHARAM!: identificamos uma dessas oportunidades, a galinha dos ovos de ouro. Era um novo mundo, com minas de diamantes inexploradas.
De repente, começou a desembarcar um monte de gente nova, gente com novos propósitos e objetivos pra este oásis. O ambiente, que era, sei lá, 80% social e 20% negócios, começou a mudar — a ponto de hoje não conseguirmos reconhecer mais um ‘bom dia’ orgânico de um ‘bom dia’ patrocinado (e pior: patrocinado pelas mesmas marcas de sempre, trazendo as mesmas mensagens ocultas de sempre).
Naturalmente, com a ocupação em massa desse espaço, ele começou a se tornar pouco fértil, pouco saudável, pouco convidativo (assim como acontece com a nossa cafeteria favorita depois que entra no hype). Quem não “precisa” estar ali, naquela multidão massificada, pro seu próprio bem, parte em busca de novos (ou antigos) espaços. E, aos poucos, vão ficando aqueles que se repetem constantemente, que gritam cada vez mais alto, porque não entenderam, ainda, que não se trata do volume da sua voz: quem deveria receber sua mensagem, não está mais ali. Se está, está sobrecarregado com uma infinitude de outros gritos e não consegue mais prestar atenção em nada.
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Isso que chamamos de ‘comunicação’ ainda é uma conversa entre dois seres humanos?
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Existe vida (boa) pra além do Instagram
Mas tem um ponto que chama muito a minha atenção.
Nessa migração exploratória, parece que nossa memória se apaga assim que chegamos a um lugar novo. Nos esquecemos de que existem outros espaços, outros jeitos, outras formas de construir e nutrir relacionamentos. Nos esquecemos que nosso cliente ideal segue caminhando pelas avenidas da cidade, esperando na fila do pão, participando de seus grupos sociais fora da internet, buscando o filho na escola, visitando museus, shoppings e lojas físicas… Isso continua existindo. E mais: continua tendo valor pra pessoa que vem a ser nosso cliente.
Essa pessoa, em conversas com amigos, indica as marcas que mais gosta — e isso tem muito mais valor do que ver um post patrocinado no Instagram. Essa pessoa convida seus familiares pra almoçar em um lugar que ela conheceu e gostou — um lugar que ela nunca nem procurou nas redes sociais.
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Um estudo da Nielsen revela que “92% dos consumidores depositam mais confiança em recomendações de amigos e familiares do que na publicidade tradicional” (tem mais dados interessantes aqui).
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Vou contar uma coisa que pode parecer absurdamente chocante, nesse momento em que vivemos: a gente não quer trocar todas as nossas informações privadas por um ebook inútil que nunca nem será aberto. E tem mais: a gente não quer passar o contato do WhatsApp pra saber informações sobre o custo do seu serviço. E a gente não quer entrar na comunidade de aquecimento pro curso.
O que nós queremos?
Bom, aqui, deixo a generalização com a qual conduzi o texto até esse momento de lado pra finalmente propor uma individualização: não existe o que “nós” queremos. “Nós” é muita gente, você sabe. Mas existe o que a minha cliente deseja e precisa, assim como existe o que a sua cliente deseja e precisa, e a cliente da Ana deseja e precisa, e a da Camila, e a da Joana, e a da Tereza…
E, se a gente não souber perguntar a ela, ou analisar o comportamento e os hábitos dela, nós nunca vamos conseguir entender. Mais do que isso: nós não vamos conseguir entregar o que ela de fato deseja e precisa.
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Cliente não é número. Não é lead. Não é persona. É pessoa.
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O resultado disso? Mais desse cenário catastrófico que temos vivido. Mais gritos, mais exploração, menos gente interessada e interessante nos ouvindo. Mais investimento financeiro em tráfego, mais criativos rodando, menos resultado a cada real colocado nisso. Mais profissionais envolvidos, menos retorno percebido.
E quero deixar claro: isso não é uma crítica apenas aos profissionais que somos. É, antes, uma crítica às pessoas que somos, pois, como consumidores, nós sabemos que esse é o cenário. Nós sabemos que estamos alimentando um ciclo que não interessa a nós mesmas. É como ser dona de um restaurante no qual nem você mesma comeria. Ou então ser fornecedora desse restaurante sendo que você jamais levaria sua família pra comer lá.
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A era das pessoas
Pra mim, por mais que insistam em dizer, essa não é a era dos dados, a era da inteligência artificial, a era do algoritmo, a era da influência… Ou, ao menos, não deveria ser.
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Dados e inteligência artificial não podem substituir a escuta, a empatia e a ética.
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Pra mim, essa deveria ser a era das pessoas: do ouvir, do se interessar genuinamente, do olho no olho com aquele que, do outro lado, consome aquilo que eu ofereço, aquele que inspira o negócio que eu coloco no mundo.
Porque, do contrário, seguiremos aqui: sendo a presença inconveniente que estraga o rolê, os ambientes legais, as conversas gostosas.
É a isso que você deseja vincular a imagem da sua marca? É dessa forma que você deseja que o mercado e seu público se lembrem de você, como o tio do pavê?
Enfim, talvez seja uma utopia minha, mas é assim que eu guio o meu negócio e que oriento minhas clientes a estruturarem e guiarem os seus: olhando pro cliente, dando as mãos pra ele e convidando esse cliente a sentar na mesa pra pensar junto.
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O que sua marca tem construído de valor pro seu público?
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Empreender não precisa ser solitário
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Boa jornada pra nós!
Meu nome é Mariana Gatzk, sou jornalista e caminho ao lado de empreendedoras sensíveis — da estruturação do negócio até os desafios da rotina profissional. Você pode conhecer mais sobre o meu trabalho aqui: marianagatzk.com. Também sou criadora do nosso pátio, um espaço pra desbravar o empreendedorismo em busca de caminhos sensíveis e autorais.